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24/03/2023
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Petecas na janela

Brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, futebol, as tardes se tornavam pequenas para tantas opções que tínhamos. A simplicidade e a falta de brinquedos, faziam com que nossas criatividades fossem mais aguçadas do que hoje em dia..

Esse mesmo pensamento, tenho sobre as comidas de minha infância. Não precisava muito para se tornar um sabor marcante. Talvez hoje com a grande variedade de opções, dificilmente algum sabor nos encanta a ponto de se tornar vivo na memória por tanto tempo.

 Talvez esse seja o motivo de eu trazer as lembranças aguçadas, do tempo de minha infância, onde um bolo frito tinha requinte de iguaria. Sem falar que tinha um, que minha vó fazia com a massa do pão, que ela apelidou de petecas. Era uma bolinha da massa do pão, que a Vó Chica esticava com as mãos e fazia uma espécie de rodelas... Então fritava, e convenientemente colocava para esfriar sobre a soleira da janela.

Era quase um recado amoroso que dizia: - Pode pegar, a vó fez para vocês!

Lógico que em cada volta da brincadeira, passávamos perto da janela para pegar uma peteca, e sair comendo...

Sei que poucos tiveram uma riqueza simples como essa. Também imagino que para muitos não passam de lembranças que guardo com um saudosismo exagerado. Mas garanto a vocês que não há dinheiro no mundo que pague as relíquias que guardo desse tempo.

Muitos dos conhecimentos que hoje as pessoas buscam em palestras, eu aprendi com minha família. Levantar-se, ir à luta, acordar cedo, acreditar... tudo isso era aprendido na necessidade de diariamente conseguir o sagrado pão.

Talvez por isso que, para mim, a gratidão tenha um sentido diferente, afinal temos vidas diferentes, infâncias diferentes, batalhas diferentes, mas no fundo somos todos iguais. Todos nós guardamos algo precioso dentro de nós, que só pelo fato de ter sido nosso, já ultrapassou a barreira do mensurável.

Enquanto tivermos a gratidão por algo que perdura dentro de nós, teremos valores, teremos orgulho do que somos. Quando olhamos para o passado e percebemos o quanto a vida foi generosa, nada do que se coloca em nossa frente nos causará medo.

Só tenho medo é de um dia, correr em volta de minhas lembranças, passar na frente da janela dos meus sonhos, e não ter mais uma peteca da Vó Chica dando sopa...


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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