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12/04/2024
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Alma Mexerica

    Ainda é cedo. Mal o dia mostra sinais de vida no canto dos pássaros, escuto a melodia melancólica da chuva que de calma se transforma em torrencial, e a alma, que não se molha, pega estrada tempo a fora, a campear lembranças. Mexerica como é, deve estar indo buscar recuerdos. A velha alma andarilha pega o estradão do tempo e vai na direção do menino que fui. Certamente vai “fuçar” nas coisas que tenho guardado...

    Mexerica, vai mexendo as coisas guardadas, retratos, poemas velhos, resquícios de romances antigos, versos quebrados que ficaram perdidos, e encontra o velho baú onde guardei as lembranças prateadas, as banhadas a ouro, as que mais me importam.

    Falo a mim mesmo: Oh minha alma, vai com cuidado nessas coisas, não remexa muito porque relíquias precisam de cuidado. Deixa-me ver essa lembrança envolvida com duas voltas de saudade… Ah, essa pode pegar! Me dá aqui que vou contar para meus amigos…

    Nesse dia, seu Olávio veio me buscar, porque convenceu meu pai a deixar eu passar o dia em sua casa brincando com o Mauro, seu filho. Tínhamos, eu e o Mauro uma certa diferença de idade, cerca de 3 a 4 anos no máximo, o que não impedia que ele compartilhasse de seus brinquedos e brincadeiras comigo. No trajeto lembro-me como se fosse hoje, seu Olávio, conversando comigo e segurando a minha mão, me pedia para repetir todos os apelidos dos moradores da nossa comunidade, e ele ria e demonstra alegria em ter a minha presença.

    Jamais esqueço a gana que eu tinha de brincar com dominós, fazer fileiras para deixar cair, montar pirâmides. Lembro de todos os detalhes desse dia incrível em que me senti tão nobre mesmo sendo tão menino. Me receberam como rei, me trataram.com carinho e respeito, e me lembro até da tristeza quando chegou a hora de ir embora. Esse dia passou rápido demais.

    Hoje minha alma foi buscar esse recuerdo, talvez para me mostrar o quanto é valioso o sentimento de se se sentir importante para alguém. Quando alguém nos pega na mão, e nos leva a viver momentos de plena paz e pertencimento, é como se plantasse uma semente de memórias profundas na alma da gente.

    Podem passar muitos que não se apaga aquilo que recebemos com afeto. As nossas atitudes de hoje, na vida de uma criança se tornará relíquia na alma dela. O tempo irá passar e um dia poderemos nos deparar com uma alma mexerica desembrulhando essa atitude por ter se tornado valiosa demais.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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