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Caderno de recordações
O Google Forms que me desculpe, e que me perdoe meu professor de de pesquisa científica, mas questionários bem elaborados eram os questionários das minhas colegas de aula lá do ensino médio. Na primeira pergunta, sem nenhuma preocupação com confidencialidade, o nome do respondente era exposto ao lado de um número que estivesse vago à sua escolha.
Era escolher um número que estivesse disponível, e todas as demais perguntas deveriam ser respondidas ao lado do mesmo número, para identificar o dono de cada resposta. Cada página do caderno colorido, continha uma pergunta relacionado às curiosidades pessoais do respondente. Cor preferida, música preferida, animal preferido, qual livro você mais ama? Qual seu filme predileto, e as perguntas se enfileiravam até o final do caderno. Ah! Por falar em final do caderno, era ali que ficava a última e mais importante missão: "Deixe uma recordação para a dona do caderno"
Quando lembro dos detalhes desse tempo, imagino quanta criatividade a tecnologia nos roubou. Naquela época, se uma guria não gostasse de algum colega, não tinha bloqueio no WhatsApp, nem deixar de seguir, nem postagens indiretas… Ela simplesmente não entregava o caderno de recordações para essa pessoa responder. O contrário também era verdadeiro... Quando a pessoa gostava de alguém não existia "curtir" ou "like", a melhor forma de dizer que gostava de alguém, era deixar algum bilhete nas coisas dela, um coraçãozinho numa folha do caderno, ou no caso das gurias entregar o caderno de recordações por primeiro para essa pessoa.
Fico imaginando, nas gurias do meu tempo, se ainda guardam os poemas que escrevi, as mensagens de fim de questionário, os corações que espalhei pelos cadernos alheios… Tudo se apaga pela ação do tempo, menos a memória dos tempos bons, da inocência, e da criatividade onde a vida acontecia nos pequenos detalhes.
Hoje as pessoas mal têm tempo para desejar um "bom dia", quem dirá para responder um questionário. Se hoje eu estivesse diante da última folha do seu caderno eu diria: - Voe, com as asas do seu sonho, voe alto, voe rápido, muito mais rápido do que o tempo, mas por mais rápido que vá, por mais alto que chegue, nunca esqueça de sua essência, nunca deixe que a vida perca o sentido de aventura. e quando precisar pousar para descansar as asas, que encontre um rastro lindo, rastro este, deixado no tempo em que caminhou de pés descalços.