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20/06/2025
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O cobertor

    Existem algumas pessoas que me recuso a esquecer pelo caminho assim como tenho alguns objetos que vão comigo por onde eu for.

    No início do ano de 2000 eu cheguei na cidade de Caxias do Sul. Havia saído de casa com a roupa que vestia e mais uma mochila com poucas peças de roupa, quase nada. O bom é que era janeiro, verão, e não havia a necessidade de mais que isso. Consegui o valor de R$50,00 emprestado de um amigo e esse era o único dinheiro que eu tinha para a iniciar a jornada. Dos R$50,00 eu gastei R$23,00 na compra da passagem. Hoje essa mesma passagem custa, em média, noventa reais.

    Ainda me sobraram R$27,00 para sobreviver na cidade grande. A minha sorte é que ao chegar sem avisar na casa de um amigo, fui acolhido. A esposa dele me levou até ao SINE para buscar meu primeiro emprego formal. Em dois dias eu já estava trabalhando pois, embora o desemprego da época fosse grande, as empresas tinham uma certa preferência por quem vinha "de fora".

    O trabalho dignifica o homem, e embora o salário fosse pequeno, eu já consegui ajudar nas despesas da casa desses meus amigos, e comprar algumas roupas. A segunda compra que fiz foi três meses depois, lembro como se fosse hoje e ainda o guardo como se fosse a primeira conquista na minha vida… um cobertor… Comprei para pagar parcelado em 5x no crediário.

    Foi esse cobertor que me defendeu das temperaturas baixas que fazia naquele inverno rigoroso de Caxias do Sul. Em muitas noites eu dormia vestido com a minha roupa mais quente e me cobria com esse cobertor. Ele segue comigo e cada vez que dobro ele para guardar, me vem à memória o quanto ele me foi fiel.

    Só vai valorizar um agasalho quem já passou frio, assim como, só vai sentir gratidão aquele que recebeu ajuda em algum momento especial da vida.

    Se você tem um objeto do qual não se desfaz dele por nada, nem sempre pode ser apego, isso pode significar respeito pela tua jornada. Esse cobertor irá comigo sempre, assim como estarão sempre comigo as pessoas que me estenderam a mão na minha caminhada.

    Existem aprendizados que só a necessidade nos ensina e nem sempre as pessoas entenderão o porquê de a gente carregar algumas coisas "velhas" e pessoas na bagagem, mas quem carrega a bagagem sabe o porquê, sabe o significado de cada coisa ou pessoa que andam junto, e isso não se chama apego, se chama gratidão.


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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