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22/08/2025
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O assoalho

    Meu pai nunca foi arquiteto, nem engenheiro, mas construtor sim. Hoje ele mora com minha mãe em uma casinha de madeira que ele construiu há mais de 40 anos… Talvez o maior gesto de preocupação com a beleza da construção tenha sido na hora de escolher as tábuas para o assoalho, visivelmente ele escolheu as mais bonitas, sem nó, as mais lisas e uniformes.

    Quando conheci a casa, onde morei dos 3 anos de idade até aos 18, ela já era assim como é agora, ao longo do tempo ela sofreu poucas intervenções de manutenção, mas de resto está tudo igual. O assoalho sempre brilhando, demonstrando todo o cuidado e carinho que minha mãe teve ao longo dos anos, e continua tendo… É como se aquele assoalho fosse o cartão de visitas de minha mãe.

    Hoje parei para pensar no tamanho dos sonhos do meu pai e da minha mãe quando decidiram construir. Conhecendo o pai, como conheço, para ele ter tido tanto cuidado ao fazer a casa devia estar com a inspiração aflorada, pois mesmo simples ela deixa um rastro de capricho em alguns detalhes. E minha mãe com tanto zelo pela beleza do rancho simples, por certo vivia sonhos lindos, e a impressão que tenho quando vejo os dois mateando na varanda da casa, é que eles conseguiram o que muitos casais de “palacetes” não conseguem.

    Tanto o pai quanto a mãe nunca foram de expressar seus sentimentos, nunca foram de falar de sonhos, e penso que nem seja necessário, tudo está muito claro em tudo que eles fazem. Tudo fica nítido na vida que construíram. Eles viveram uma comunhão muito maior do que muitos que declaram seus sentimentos em redes sociais.

    A vida deles, sem muitas declarações, sem muito investimento em sofisticação, me mostra, através dos detalhes do que o pai construiu e do capricho de minha mãe ao cuidar de tudo isso, que nem sempre a vida tem que chamar a atenção para ser linda. O simples se torna belo quando atende ao propósito de ambos.

    Quando o castelo tem que ser muito bonito é porque precisa esconder a fragilidade do rei e da rainha. Meus pais aprenderam a viver um propósito comum e é essa essência que faz o simples tornar-se belo. O amor fez meu pai escolher as tábuas do assoalho, o amor fez minha mãe passar cera e lustrar por 40 anos…


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Postado por:

Jácson Lusa

Jácson Lusa

Tradicionalista, poeta, pesquisador, comunicador de rádio e cursando bacharelado em adm. de empresas.

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